O sofrimento animal é imenso e assume muitas formas. Trilhões de animais de fazenda e criadouros (incluindo peixes) sofrem condições precárias e são tratados com crueldade em fazendas industriais. Embora nenhum animal mereça sofrer, a defesa dos animais de criação representa uma das oportunidades mais significativas para reduzir o sofrimento animal em larga escala. Ao concentrarmos nossos esforços de defesa e arrecadação de fundos na melhoria da vida dos animais de criação, acreditamos que podemos causar o maior impacto no bem-estar animal em todo o mundo.
Quantos animais de fazenda e criadouros são mortos?
Os animais de fazenda representam mais de 99% de todos os animais mortos para consumo humano no mundo, com uma estimativa de 83 bilhões de animais terrestres, 124 bilhões de peixes de cultivo e 1 a 2 trilhões de peixes selvagens utilizados para alimentação e vestuário a cada ano, superando em muito os animais de companhia e aqueles utilizados em laboratórios. Somente nos Estados Unidos, mais de 14.000 animais de criação são abatidos para cada cão ou gato sacrificado em um abrigo. Dos animais domésticos e em cativeiro mortos por humanos nos EUA, menos de 1% são animais mortos em laboratórios e um número ainda menor é sacrificado em abrigos para animais de companhia. Mais de 99% dos animais abatidos por humanos são mantidos em fazendas.
Como é a vida dos animais de criação?
Os animais em fazendas industriais sofrem muito. Embora possamos não compreender totalmente as experiências subjetivas destes animais, sabemos que certos métodos de criação industrial negam a eles qualquer chance de uma vida natural. Por exemplo, as galinhas ciscam em busca de comida, constroem ninhos e poleiros, limpam suas penas e interagem com seu bando quando têm espaço suficiente. No entanto, as galinhas em granjas industriais passam a vida inteira em gaiolas superlotadas e vazias, com quase nenhum espaço para se mover ou estender as asas.
Da mesma forma, a vida das vacas de criação está longe dos pastos verdes e idílicos frequentemente retratados em caixas de leite e embalagens de carne. Muitos desses animais dotados de curiosidade passam seus dias em espaços confinados e lotados, com pouca chance de vagar ou descansar tranquilamente sob árvores frondosas. As vacas nas fazendas são inseminadas artificialmente todos os anos para engravidar e produzir leite. Na maioria dos casos, as vacas são separadas de seus bezerros após o parto, negando-lhes a oportunidade de criar laços e cuidar dos filhotes — uma experiência profundamente angustiante tanto para as mães quanto para os bezerros.
Lamentavelmente, o setor da agropecuária industrial prioriza a maximização da produção agrícola em detrimento do bem-estar animal e de outras questões, como o meio ambiente e a saúde pública. Apesar de alguns esforços para lidar com esses problemas, os grandes produtores hesitam em implementar medidas que possam aumentar os custos operacionais ou diminuir o potencial de vendas. Isso resultou em uma indústria insustentável que perpetua o sofrimento animal generalizado.
A Lacuna de Financiamento
Apesar da vasta escala e intensidade do sofrimento experimentado pelos animais de criação, sua situação continua sendo altamente negligenciada pela filantropia e pelo público. As organizações que os ajudam recebem pouca atenção ou financiamento em comparação com outras causas.
Analisando dados dos últimos anos, fica evidente o quanto os animais de criação são ignorados. Cerca de 95% das doações para organizações para animais nos EUA são destinadas a animais de estimação, 1% para organizações de defesa dos animais de laboratório e apenas 4% especificamente a organizações de animais de fazenda.

Embora esses números devam ser interpretados como indicadores gerais e não como estatísticas precisas, eles apontam para um desequilíbrio significativo na distribuição atual do financiamento para a defesa dos animais.
O que pode ser feito para ajudar os animais de criação?
Abordar a complexa questão do sofrimento dos animais de criação pode parecer assustador, mas existem ações eficazes que podem levar a mudanças significativas. Doar de forma eficaz envolve usar evidências e análises cuidadosas para determinar as melhores estratégias para fazer a diferença. Isso garante que cada dólar seja gasto com sabedoria, resultando na maior redução possível do sofrimento animal e na melhoria mais substancial em suas vidas.
Para doadores e defensores que buscam causar o maior impacto possível no bem-estar animal, algumas ações são mais eficazes do que outras para ajudar mais animais por dólar investido. Algumas estratégias com boa relação custo-benefício incluem:
Campanhas junto as empresas para que elas se comprometam a reduzir o sofrimento animal: Incentivar empresas a adotarem políticas que reduzam o sofrimento, como o compromisso de usar apenas ovos de galinhas livres de gaiolas em toda a sua cadeia de suprimentos.
Iniciativas de Mudança de Hábitos alimentares: Promover a redução do consumo de produtos de origem animal ou o aumento do consumo de produtos à base de plantas, diminuindo a demanda por produtos de origem animal de criação intensiva.
Tentar influenciar Políticas Públicas: Apoiar legislação voltada para a melhoria do bem-estar animal, como pressionar por leis que proíbam as práticas mais cruéis das fazendas industriais.
Embora priorizar estratégias de baixo custo seja uma maneira eficaz de ajudar mais animais, ainda há uma necessidade significativa de aumento de financiamento para identificar as melhores maneiras de ajudá-los. Para ajudar a preencher a lacuna entre o imenso sofrimento dos animais de fazenda e a relativa falta de financiamento para a defesa destes, incentivamos doadores e defensores dos animais a se concentrarem em ajudar esses animais especificamente.
Com bilhões de animais afetados e muitas intervenções de baixo custo disponíveis, a defesa dos animais de fazenda oferece um dos caminhos mais promissores para uma mudança positiva em larga escala. Ao apoiar organizações que priorizam esse tipo de intervenção, podemos impulsionar mudanças sistêmicas que melhorarão a vida de inúmeros animais em todo o mundo.
Publicado originalmente pela Animal Charity Evaluators aqui.
Tradução: Fernando Moreno